Um estudo recente publicado no Canadian Medical Association Journal lança luz sobre o acesso ao atendimento emergencial por pacientes antes do diagnóstico de câncer em Ontário, Canadá. A pesquisa, que abrangeu dados de mais de 650 mil pessoas diagnosticadas entre 2014 e 2021, identificou que 35% dos pacientes visitaram salas de emergência nos 90 dias anteriores ao diagnóstico.
A análise destacou que, dos que buscaram atendimento de emergência, uma significativa parcela necessitou de internações. A principal preocupação dos autores do estudo é o impacto desse tipo de atendimento no manejo adequado do diagnóstico de câncer, ressaltando a limitação dos pronto-socorros em oferecer um acompanhamento contínuo necessário para tais casos.
O que leva os pacientes ao serviço de emergência?
- Dificuldades em obter diagnóstico precoce: muitos pacientes com câncer podem apresentar sintomas inespecíficos que dificultam o diagnóstico precoce, levando-os a buscar atendimento em serviços de emergência.
- Falta de acesso a cuidados primários: a ausência de um médico de família ou a dificuldade em agendar consultas pode levar pacientes com sintomas persistentes a procurar atendimento emergencial.
- Barreiras socioeconômicas: pacientes de grupos socioeconômicos mais vulneráveis podem enfrentar maiores dificuldades para acessar serviços de saúde, incluindo o atendimento de emergência.
- Necessidade de educação em saúde: muitos pacientes podem não estar cientes dos sinais e sintomas de alerta do câncer, o que pode atrasar a busca por atendimento médico.
Quais são os grupos mais propensos a procurar serviços de emergência?
O estudo revelou que alguns grupos de pacientes têm uma maior tendência a buscar atendimento emergencial antes do diagnóstico de câncer. Idosos, pessoas vivendo em áreas rurais, comunidades marginalizadas, pacientes com múltiplas condições médicas e aqueles diagnosticados durante a pandemia de Covid-19 compõem os grupos de maior prevalência nesse comportamento.
Nota-se que imigrantes recentes, com menos de cinco anos no país, são menos propensos a utilizar o pronto-socorro antes de obter um diagnóstico. Este dado levanta questões sobre desigualdades de acesso e barreiras culturais e linguísticas ao atendimento.
Por que esse estudo é importante?
- Identificar lacunas no sistema: ao analisar os dados, os pesquisadores podem identificar falhas no sistema de saúde que podem estar levando pacientes com câncer a buscar atendimento emergencial.
- Melhorar a qualidade do cuidado: com base nos resultados, é possível propor estratégias para melhorar o acesso a cuidados primários e especializados, reduzindo a necessidade de atendimento de emergência para esses pacientes.
- Otimizar recursos: ao entender melhor o perfil desses pacientes, os hospitais podem alocar recursos de forma mais eficiente, garantindo um atendimento mais adequado e oportuno.
Desafios e recomendações para o sistema de saúde
Os especialistas envolvidos no estudo chamam a atenção para a necessidade urgente de revisão nas estratégias de diagnóstico de câncer e acesso a exames fora do contexto de emergência. Atualmente, o pronto-socorro é visto como uma solução imediata e cara, que frequentemente resulta em sobrecarga hospitalar. Investir em cuidados ambulatoriais, segundo os pesquisadores, pode não apenas melhorar a qualidade do atendimento, mas também garantir um acesso mais equitativo e eficiente ao diagnóstico precoce.
O estudo destaca a relevância de iniciar novos levantamentos para compreender as razões que levam determinados grupos a depender do pronto-socorro para resolução de sintomas suspeitos de câncer. Essa compreensão é crucial para o desenvolvimento de políticas que garantam tanto a eficiência do sistema de saúde quanto o bem-estar e prognóstico dos pacientes.
Entender como os pacientes interagem com o sistema de saúde antes de um diagnóstico de câncer é vital para otimizar os recursos e oferecer um tratamento mais humanizado. O estudo em Ontário proporciona informações valiosas que esperam influenciar melhorias no manejo e acesso a exames diagnósticos, reduzindo a dependência do atendimento emergencial e potencializando o prognóstico dos pacientes oncológicos.