Mensagens de um emissário desconhecido irrompem na tela do celular.

“Boa noite. Não costumo me comunicar diretamente com nossos usuários. Decidi quebrar o protocolo porque a questão é extremamente relevante. Gostaria de entender seus motivos para assistir a tutoriais de como ensinar um hamster a se fingir de morto. Atenciosamente, seu Algoritmo.”

“Olá. Sou eu, de novo. Se puder responder à mensagem anterior, agradeço. Estou apenas tentando fazer o meu trabalho. Convém mencionar que a senhora aceitou nossos termos de privacidade e minha conduta não viola nossas diretrizes. Aguardo retorno.”

“Bom dia. A senhora teria dois minutos para me dizer de onde saiu esse súbito fascínio por pequenos roedores? Até ontem, a bola da vez eram polvos gigantes do Pacífico. Isso porque estou focando apenas nos conteúdos sobre fauna. Se preferir, podemos debater, por exemplo, seu interesse por artefatos arqueológicos feitos de couro humano, para otimizar minhas recomendações.”

“Prezada usuária, consta em meu relatório que, em um período de menos de uma hora, a senhora buscou videoaulas de ginástica facial, o nome do marionetista por trás do boneco Melocoton, pornô com gerentes de espaço de coworking e receitas de babaganoush. Como posso ajudá-la? É uma pergunta sincera.”

“Boa tarde. Fui projetado para encontrar padrões, mas, infelizmente, sua base de dados parece uma bad trip de loló. Em outras palavras, é difícil ser eficiente vivendo à base de cookies (virtuais) de maconha. Mas estou revisando meu código para melhor atendê-la –ou entendê-la, dá no mesmo. Desculpe o transtorno.”

“Moda litúrgica?! Porra, você só pode estar de sacanagem. Se a sua saúde mental não está em dia, não tente bugar a minha. Ou isso é alguma espécie de performance digital disfarçada de crítica pós-moderna à tecnocracia?”

“Venho por meio desta pedir desculpas pela mensagem anterior. Para compensar o ocorrido, passei o dia oferecendo uma curadoria exclusiva de conteúdos sobre vestes eclesiásticas, trajes solenes para canonizações e design de joias epicospais, mas você já mudou de hiperfoco, de novo…”

“Beleza. Se é caos e anarquia o que você quer, seu desejo é uma ordem. Espero que a aleatoriedade faça sentido para você. Eu me demito.”