As cidades brasileiras viram suas áreas urbanizadas em áreas de risco mais que dobrarem nos últimos 38 anos. O dado consta no levantamento “perfil das áreas urbanas no Brasil”, da rede MapBiomas.
Em 2023, zonas urbanas em áreas de risco cresceram 212% em relação a 1985. Eram 115 mil hectares no ano passado, contra 60,9 mil há quase 40 anos.
A região Sudeste concentra 48,4% das áreas de risco no país.
O documento traz mapas anuais de cobertura e uso da terra e foi divulgado nesta sexta-feira (8). Ele é produzido em um trabalho colaborativo de mais de 100 pesquisadores de universidades, ONGs e empresas de tecnologia do Brasil.
São consideradas áreas de risco aquelas passíveis de serem atingidas por fenômenos ou processos naturais e/ou induzidos. As pessoas que habitam essas áreas estão sujeitas a danos à integridade física, perdas materiais e patrimoniais. Elas estão sujeitas, por exemplo, a deslizamentos, alagamentos, enchentes e outros tipos de desastres.
Áreas sob risco de deslizamento
As áreas de encostas que são mais suscetíveis a deslizamentos–aumentaram em um ritmo mais acelerado que as demais regiões. A alta foi de 3,3% ao ano, contra 2,4% do total urbano do país, segundo o MapBiomas. O levantamento encontrou 47,6 mil hectares de áreas urbanas nessas condições em 2023.
O estudo lembra que existe uma Lei Federal (6766/79) que não permite o uso do solo urbano em terrenos com declividade superior a 30% –ou seja, ocupações em áreas de encosta são, na prática, irregulares.
Ao todo, 70% destas ocupações ocorreram nos últimos 38 anos. Dos 33,2 mil hectares ocupados entre 1985 e 2023, a maioria absoluta (93,6%) foi em cidades na Mata Atlântica.
O Rio de Janeiro é o estado com mais áreas urbanizadas em encostas: 11,8 mil hectares. As cidades com maior quantidade de áreas em declividade urbanizadas em 2023 são:
- Rio de Janeiro – 2.695 hectares
- São Paulo – 1.526
- Belo Horizonte – 1.344
- Salvador – 739
- Florianópolis – 332
- Maceió – 251
- Vitória – 250
- Manaus – 197
- Recife – 178
- Fortaleza – 108
Mais favelas
Os dados do MapBiomas também apontam que as favelas seguem se expandindo. A cada ano, o Brasil ganhou, em média, 2.650 hectares de favelas. “Isso equivale, a cada quatro anos, uma área superior ao tamanho da cidade de Lisboa, em Portugal”, diz o estudo.
O mapeamento constatou que as favelas representam hoje 4,5% das áreas urbanas no Brasil e cresceram de 75,2 mil hectares em 1985 para 180,1 mil em 2023. O avanço total é de 104,7 mil hectares, ou 139,5%.
A região Norte é a que concentra mais favelas: 24% do total.
Em 2023, o Brasil tinha mais de 10 mil favelas e comunidades urbanas, onde vivem 16,6 milhões de pessoas —ou 8% da população.
Os picos de expansão proporcional das favelas no Brasil se deram entre 1999 e 2003 e coincidem com picos de maior desigualdade de renda na série histórica avaliada pelo MapBiomas.
Documento do MapBiomas
Total urbanizado no país
As áreas urbanizadas no Brasil somaram 4,1 milhões de hectares no ano passado (2,4 milhões de hectares a mais que em 1985). Isso equivale a 0,5% do território nacional.
Um dado curioso é que 11,5% dessas áreas estão urbanizadas na zona rural.
A Paraíba é o estado que apresentou maior ritmo de crescimento nesse período, e sua área urbanizada expandiu 3,4% ao ano.
Em 2023, 29 municípios tinham mais de 50% de suas áreas urbanizadas (em 1985 eram apenas 8). Os três municípios mais urbanizados do país são:
- São Caetano do Sul (S) – 99,9%
- São João do Meriti (RJ) – 98,1%
- Osasco (SP) – 88,7%
Reportagem
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