Casas como Tatu Bola e Rei do Pastel Gourmet estão entre os negócios que apostam no potencial econômico na região da Pampulha
Importante elo entre o bairro Ouro Preto e a Lagoa da Pampulha, a avenida Fleming vai muito além da sua função de deslocamento. De um lado e de outro da calçada, habitam bares, restaurantes e cafés que atraem pessoas da região e de outras partes de BH. Apesar de sempre ter sido movimentada, é inegável que a avenida vive uma nova onda de aquecimento e tem atraído estabelecimentos que ganharam fama na região Centro-Sul, como Rei do Pastel, A Pão de Queijaria e Dona Fulô. Fora da área gastronômica, a região também tem recebido empreendimentos como concessionárias e supermercados.
De olho no potencial econômico da Pampulha, o bar Tatu Bola, na região da Savassi, escolheu a avenida para inaugurar sua segunda unidade na capital – em agosto deste ano. A proposta é basicamente a mesma, com algumas adaptações de cardápio e decoração, e pretende abocanhar um público que não quer fazer grandes deslocamentos para ter um momento de lazer. Foram investidos R$ 4 milhões na nova operação.
“Eu nasci e cresci na Pampulha e, na minha época, tínhamos que ir para a região Centro-Sul para ter mais opções. Hoje, percebo que tem havido um movimento de descentralização, os moradores daquele lugar querem opções no entorno. É claro que sempre existiram bares na Fleming e na região, como o Xapuri. Mas, acredito que agora a Pampulha está ainda mais aquecida, principalmente por causa da expansão dos bairros”, analisa a sócia Aline Prado.
A poucos metros dali, do mesmo lado da calçada, está o Rei do Pastel Gourmet, que se mudou do bairro Castelo para o Ouro Preto há cerca de um ano. Diferentemente do bar de mesmo nome na Savassi, que pertence a outro grupo, esse restaurante faz jus ao nome ao oferecer algo além de cerveja e salgados. Em um ambiente climatizado para 200 pessoas, a casa oferece também drinks, chopps e porções com carnes mais sofisticadas.
“Atendemos a um público mais exigente e com maior poder aquisitivo. Nosso ticket médio é de R$ 80 e mais que dobramos o faturamento desde que viemos para a Fleming. Também nos beneficiamos muito dos eventos no Mineirão, que se tornou quase uma casa de shows agora. O movimento aumenta tanto que até estendemos o horário de funcionamento para atender todo mundo”, relata o proprietário Humberto Ferreira.
Ele também revela que a área anda tão valorizada que foi até difícil encontrar um ponto para chamar de seu. “Passava por ali todos os dias para ver se encontrava algum espaço para alugar. Um dia, calhou de um dos bares fechar e vi uma movimentação no local. Entrei e descobri que era o pessoal da imobiliária. Consegui alugar antes mesmo do anúncio sair.”
Ainda há casos de empresários que encerraram as atividades na região Centro-Sul e optaram por investir apenas na unidade da Fleming. É o caso de Marcelo Fernandes, proprietário da Sirène, que fechou a unidade na rua Sapucaí, no final do ano passado, e entregou o ponto para os sócios – que abriram outro bar no espaço. Hoje, ele está à frente apenas da casa na Pampulha, inaugurada em 2021.
“Tem valido bastante a pena, consigo captar um outro tipo de público, com poder aquisitivo um pouco maior. Outra vantagem é que a avenida tem espaço para clientes de diferentes perfis e condições financeiras. Cada bar tem seu público e tenho poucos concorrentes diferentes. Há espaço para todo mundo faturar bem”, garante.
Redução de custos
Outro ponto levantado pelos empresários é que, devido a alta concentração de bares em uma mesma avenida, fica muito mais fácil captar clientes para dentro da loja em comparação a locais mais isolados. Esse é o ponto defendido por Cleide Fraga, proprietária do restaurante Dona Fulô, que já tem unidades em Lourdes e Betim. A terceira casa será inaugurada na Fleming em novembro.
“No restaurante de Lourdes, estou praticamente sozinha na minha rua. Então, os gastos com marketing e redes sociais para levar gente para lá é muito mais alto. Na Fleming não, as pessoas vão para a avenida circular e acabam conhecendo todas as casas. Além disso, se um restaurante está cheio o cliente vai para outro. É um marketing orgânico”, afirma.
Além de reduzir os custos em comunicação, a empresária revela que a nova unidade, que se chamará Bodega da Fulô, também terá uma operação bem mais enxuta. Isso porque, diferentemente da unidade Lourdes, que foca em pratos mais elaborados, a casa da Pampulha investirá em petiscos e comidas de boteco – refletindo em uma equipe menor.
“É uma proposta mais descontraída, sem aquela pegada de grandes almoços de família. Também acreditamos que o público da Fleming é mais recorrente, são pessoas que priorizam sair no entorno de suas casas e que têm várias opções em uma mesma avenida. Então, vamos trabalhar para fidelizar esse pessoal”, aponta.
De olho no turismo
Com quatro casas na capital, a A Pão de Queijaria tem ocupado estrategicamente os pontos que são frequentemente visitados por quem se interessa em conhecer, ou revisitar, BH. Nascida em 2014, na Savassi, a marca também já tem lojas no Mercado Novo e na avenida Álvares Cabral – bem em frente ao terminal onde os turistas pegam o ônibus em direção ao aeroporto. No início do ano, também abriu as portas na avenida Fleming.
“A região é muito promissora e ainda pouco explorada. Ela tem um potencial turístico gigante e queremos fazer parte desse movimento de expansão que tem acontecido por lá. O local escolhido, a Vila Rica Pampulha, também tem um conjunto arquitetônico interessante e único em BH. É um atrativo a mais”, explica o sócio Paulo Lassi.
Para Karla Rocha, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), turismo e gastronomia se fortalecem mutuamente na região. “O visitante chega para ver a lagoa, a igrejinha e encontra restaurantes com diferentes propostas. É algo muito positivo, pois ele acaba permanecendo por mais tempo e volta para casa com uma boa experiência”, diz.
Além de atrair turistas, o empresário também aposta na atração do público que mora no entorno. “Já havia essa demanda. Muitos clientes conheciam a marca, mas não queriam ir até a Savassi para consumir. Além do trânsito de BH ser complicado, muitas pessoas moram e trabalham na região. Elas conseguem consumir serviços e lazer sem depender da região central. Algo parecido com o que acontece com o Barreiro e o Buritis”, analisa Lassi.