Na segunda reportagem da série “O complexo”, as agruras do financiamento do maior sistema de saúde do mundo
O SUS, criado pela Constituição de 1988, provocou uma mudança radical na saúde dos brasileiros ao universalizar o atendimento, o que beneficiou, sobretudo, as camadas mais pobres da população. Só no ano passado, foram 400 milhões de consultas médicas, 27 milhões de consultas odontológicas e 12,4 milhões de internações, segundo números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Todo esse aparato gigantesco, único no mundo, mobiliza cerca de 4 milhões de profissionais e exige uma montanha de dinheiro. Em 2021, o gasto público com saúde no Brasil alcançou 363,4 bilhões de reais, o que corresponde a 4% do PIB. Parece muito, mas não é. A falta de dinheiro é uma das razões para as filas, a escassez de médicos e medicamentos, os equipamentos quebrados, a demora nas consultas e todo o rosário de deficiências das quais os usuários do SUS tanto reclamam.
O limite da despesa total em saúde pública no Brasil em 4% do PIB está hoje aquém do gasto recomendado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que sugere a destinação de uma fatia de 6% do PIB nos países que mantêm sistemas de saúde pública universal. O Reino Unido gasta 10,3%, a Colômbia, 7,1%, e o Chile, 5,9%. Uma análise técnica do próprio Ministério da Saúde indica que, para desafogar os municípios, sobre os quais recaíram grande despesa com o SUS, a União deveria aplicar hoje 295,5 bilhões de reais – 77 bilhões a mais do que o previsto para este ano, informa Fabiane Leite na segunda reportagem da série “O complexo”, sobre o SUS, que a piauí vem publicando desde outubro. A série conta com o apoio da Umane, uma associação civil sem fins lucrativos que estimula iniciativas sobre saúde pública.
Mas o problema não é só este. A sociedade brasileira, como um todo, nunca abraçou o SUS, como ocorreu no Reino Unidos, com o National Health System (NHS). Criado no pós-guerra, o sistema público de saúde britânico tinha e continua a ter o apoio maciço dos ingleses, que inclusive o homenagearam na abertura dos Jogos Olímpicos, em Londres, em 2012. No Brasil de 1988, os trabalhadores, seus sindicatos e centrais, nunca levantaram a bandeira do SUS porque tinham, e têm até hoje, seus seguros e planos de saúde. A massa dos servidores públicos também tem seus próprios planos, com acesso a bons hospitais, e não conhece a realidade das longas filas para atendimento.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.