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Copom aumenta taxa de juros novamente e Selic chega a 11,25%

Decisão de aumento de 0,5 p. p. já era aguardada pelo mercado financeiro, que projeta cenário de incertezas

Com aumento da Selic, fica mais caro para o consumidor acessar crédito

Sem surpreender o mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, nesta quarta-feira (6), elevar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, fazendo com que a Selic alcance a marca de 11,25% – a segunda alta deste ano. 

Esta foi a primeira reunião para definir a taxa depois que Gabriel Galípolo foi aprovado pelo Senado Federal como próximo presidente do Banco Central, substituindo Roberto Campos Neto. A decisão foi unânime entre os membros do comitê. 

De acordo com o texto divulgado pelo Copom, a decisão leva em conta um cenário de incertezas nos Estados Unidos (que acaba de eleger Donald Trump), além da inflação no Brasil, especialmente no setor de serviços. “Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo. A inflação cheia e as medidas subjacentes se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,6% e 4,0%, respectivamente”, afirma o Copom. A meta para o país é de inflação em 3,5%.

O Copom também aproveita para cobrar do Governo Federal a entrega de um plano de corte de gastos, para manter a saúde orçamentária do Brasil. “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, argumenta o Copom.

Segundo aumento consecutivo

Depois de ficar 12 meses no patamar alto de juros a 13,75%, a Selic teve seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, entre agosto do ano passado e maio deste ano. Nas reuniões de junho e julho, o Copom decidiu manter a taxa em 10,5% ao ano, no menor nível desde fevereiro de 2022. A retomada de altas aconteceu na última reunião, em setembro, quando os juros subiram para 10,75%.

A decisão desagrada os setores produtivos. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) se posiciona insatisfeita com a nova alta nos juros e pede uma abordagem “mais equilibrada” nas próximas reuniões. “Essa elevação na taxa básica de juros coloca a economia em estado de alerta. A elevação da Selic reduz a capacidade produtiva, desestimula investimentos e gera impactos sistêmicos profundos. Para a indústria, os juros altos impõem desafios significativos, restringindo a capacidade de investimento e reduzindo a competitividade, com reflexos negativos sobre o crescimento econômico, a geração de empregos e a renda da população”, diz a Fiemg por meio de nota.

“Uma taxa de juros mais estável e equilibrada é fundamental para criar um ambiente de recuperação e fortalecimento econômico, e para isso o Banco Central precisa agir com determinação e ousadia”, completa a nota da Fiemg. 

Para a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), a aceleração do ritmo de aperto pode ser prejudicial às atividades econômicas no início do próximo ano. “Entendemos que essa nova alta é reflexo não apenas de questões internas, mas também do cenário internacional, especialmente o câmbio do dólar e o cenário político dos Estados Unidos. Contudo, o controle interno da inflação precisa ser urgentemente repensado. Caso contrário, o  setor de comércio e serviços pode ser impactado logo no início do ano, onde, geralmente, as vendas já são mais retraídas”, avalia o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva.

O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de Minas Gerais (FCDL-MG), Frank Sinatra, afirma que “é necessário, sim, encontrar meios de conter a inflação, mas mexer apenas na taxa de juros não vai resolver. O cenário exige outras ações, como o equilíbrio fiscal e a redução de gastos, por exemplo. O governo precisa encontrar outro caminho, com menos efeitos negativos, sobretudo para o setor produtivo”. 

O mercado financeiro gostou

Por outro lado, especialistas do mercado financeiro defendem o aumento na Selic. De acordo com Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, os investidores ficaram satisfeitos ao ver que o Copom apresentou uma decisão já esperada.

“Achei o tom da ata bem neutro porque foi exatamente na mesma linha da anterior, então eles justificam que o cenário externo é desafiador para emergentes. A atividade econômica do país está resiliente, o mercado de trabalho robusto, e a inflação corrente está acima do teto da meta, o que mostra ali uma preocupação com a desancoragem da inflação futura e continua sinalizando, na minha visão, que eles estão analisando muito de perto a questão fiscal para a tomada de decisão”, explica. 

“Com o aumento de 0,50 pp, o Copom demonstra uma postura mais firme para trazer a inflação ao centro da meta. Isso gera impacto direto no custo do crédito e pode esfriar a atividade econômica, mas traz uma vantagem para o câmbio ao aumentar a atratividade do país para investidores estrangeiros. O real mais valorizado poderia ajudar no controle da inflação via importados, mas existe um limite para essa política sem prejudicar a recuperação econômica”, diz Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus.

E a perspectiva do mercado é que haja novas altas nas próximas reuniões do Copom. “Os Estados Unidos escolheram Donald Trump como presidente para os próximos quatro anos. Essa notícia gerou turbulências no mercado financeiro ao longo do dia, com queda da bolsa e desvalorização cambial. As promessas de elevação das tarifas de importação têm afetado o mercado financeiro em nível global. Alguns analistas acreditam que a Selic deve chegar próximo de 13% até o fim desse ciclo de alta, o que é muito ruim para o setor produtivo”, prevê Paulo Casaca, economista da Associação Comercial de Minas Gerais (ACMinas).

O que é a taxa Selic?

A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia. Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto – comprando e vendendo títulos públicos federais – para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.

Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

O Copom reúne-se a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do Copom, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.

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