‘Estilo de vida é remédio’: conheça 6 pilares da medicina inovadora que pode reverter doenças
Congresso Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida será sediado a partir desta quinta em Florianópolis; especialistas ressaltam que nunca é tarde para começar a desenvolver hábitos saudáveis
O VII Congresso Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida começa nesta quinta-feira (7) em Florianópolis, no Hotel Majestic. Até sábado, especialistas vão debater diferentes aspectos da Medicina do Estilo de Vida, que se baseia em seis pilares de hábitos saudáveis como forma de prevenção, tratamento e até reversão de doenças crônicas não-transmissíveis.
A Medicina do Estilo de Vida aposta em mudanças de comportamento para garantir saúde por toda a vida, e não só para no tratamento das enfermidades. “Estilo de vida é remédio”, diz o lema do campo.
Conforme a OMS (Organização Mundial da Saúde), as doenças crônicas são a principal causa de morte no mundo. Nesse grupo estão a hipertensão, diabetes tipo 2, neoplasias, obesidade, doenças cardíacas e respiratórias.
Mas, afinal, como aplicar os pilares dessa abordagem no cotidiano? “A Medicina do Estilo de Vida aborda a criação e manutenção de hábitos saudáveis. A maioria desses remédios são gratuitos, porque são comportamentos”, apresenta a Dra. Fernanda Bornhausen, psicóloga e diretora regional do CBMEV (Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida).
Em entrevista ao portal ND Mais, ela explica que é uma visão completamente diferente da medicina tradicional. A abordagem multidisciplinar acredita em uma perspectiva humanizada e integral do paciente. O atendimento envolve médicos, nutricionistas, educadores físicos, psicólogos e outros profissionais da área da saúde.
Segundo a Dra. Silvia Lagrotta, presidente e cofundadora CBMEV, a responsabilidade do paciente no tratamento e na manutenção da saúde.
“O câncer, a diabetes, a hipertensão, o infarto e o Alzheimer são todas doenças crônicas inflamatórias. Como você começa a inflamar o seu corpo? Quando você começa a ter estímulos inflamatórios, como não dormir direito e ser sedentário”, aponta a médica geriatra.
A Medicina do Estilo de Vida reúne evidências científicas de diversas escolas da saúde. A vertente surgiu em 2004, liderada pelo Dr. John Kelly, da Universidade de Loma Linda, na Califórnia.
A abordagem se estabeleceu no Brasil com a fundação do CBMEV, em 2018, que segue as diretrizes do Conselho Internacional de Medicina do Estilo de Vida. No início, eram apenas sete membros. Hoje já são mais de 1,5 mil médicos brasileiros inscritos.
Entenda como aplicar os 6 pilares da Medicina do Estilo de Vida
1. Fazer uma dieta saudável
Os especialistas recomendam a ingestão de cinco ou mais porções de frutas e verduras por dia. Os alimentos ricos em fibras, em especial, precisam de espaço na dieta.
“Tem que comer 30 a 40 gramas de fibras. Para ter uma ideia, uma banana tem 1 grama de fibra”, aponta Silvia Lagrotta.
É importante também evitar os produtos industrializados. “Descascar mais e desembrulhar menos”, indica a Dra. Fernanda Bornhausen.
2. Atividade física regular
O ideal é fazer exercícios físicos por 150 minutos por semana, no mínimo. Deve-se variar atividades aeróbicas (como natação, corrida e bicicleta), treinos resistidos (musculação, pilates) e alongamento.
“A primeira coisa que a gente busca fazer é orientar o paciente a sair do estado de inércia e do sedentarismo”, introduz o Dr. Bruno Colontoni, cardiologista e presidente do VII Congresso Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida.
Estudos apontam, inclusive, que caminhadas rápidas de 20min por dia diminuem o risco de demência e melhoram a cognição.
“Pernas fortes, cérebro forte. As pessoas não ligam muito a questão da atividade física com a questão cerebral, mas é totalmente conectada. Hoje tem cada vez mais evidências científicas da atividade física como remédio para evitar a demência”, acrescenta Fernanda Bornhausen.
“Nunca é tarde para começar. Hoje a gente sabe que com 100 anos as pessoas conseguem fazer massa muscular. Então se ficou sedentário até os 60 anos, pode começar”, ressalta.
3. Controle de substâncias tóxicas
Parece óbvio, mas os pacientes não podem fumar e devem limitar o consumo de álcool. O Brasil é referência no combate ao tabagismo e apenas 12,6% dos adultos fumam, segundo a plataforma Progress Hub.
O advento dos cigarros eletrônicos, no entanto, acendeu um novo alerta na saúde pública. O hábito popular entre os jovens é tão nocivo quanto o cigarro tradicional e pode causar câncer, doenças respiratórias e cardiovasculares.
Sobre as bebidas alcoólicas, a Dra. Fernanda Bornhausen lembra que “não existe dose segura de álcool, mas existe um limite preconizado de uma taça por dia para mulher e duas para homem no máximo”.
4. Conexões sociais
Na Medicina do Estilo de Vida, relacionamentos saudáveis são remédios. Além de priorizar o autocuidado, a Dra. Silvia Lagrotta alerta para a importância de evitar a solidão.
“Se você for isolado, é como se estivesse fumando meio maço de cigarro por dia”, revela a médica.
O isolamento social é um dos principais agravantes da doença Alzheimer e aumenta em 40% a chance de morte precoce. Os fatores da doença, inclusive, são apenas 3% genéticos, enquanto 97% estão relacionados a um estilo de vida pobre e desequilibrado.
5. Controle do estresse
Semelhante à solidão, o estresse pode ser tão prejudicial à saúde quanto o tabagismo. Os especialistas apontam para a importância do autoconhecimento no manejo do estresse em situações cotidianas.
“A medida em que diminuímos o estímulo estressor e mudamos a forma com que respondemos a esse estímulo, geramos benefícios ao nosso corpo”, explica o Dr. Bruno Colontoni.
“Ter essas ferramentas melhora nossa percepção e aumenta o estímulo do sistema nervoso que a gente chama de parassimpático, aquele que desacelera nosso organismo, diminui a frequência cardíaca e a pressão arterial”, completa.
Psicoterapia, massagem, meditação, acupuntura, massagem, espaço de convivência e descompressão são algumas das recomendações.
6. Qualidade do sono
Dormir de 7 a 9 horas por dia é sagrado. A qualidade do sono interfere diretamente na saúde de todo o corpo, por isso, a Medicina do Estilo de Vida considera a higiene do sono como um remédio.
“O remédio mais simples, que tem muita evidência científica, é se expor à luz natural quando acordar e não ficar no escuro ou pegar o celular. Seu corpo entende que você se expôs à luz do dia e começa a produzir serotonina melatonina na hora certa para você dormir bem”, sugere a Dra. Fernanda Bornhausen.
A Dra. Silvia Lagrotta ainda aponta que é impossível perder peso sem dormir direito. “Não existe isso. Às vezes você faz um monte de restrição alimentar, aumenta o estresse, aumenta o cortisol e não emagrece. É para poder encaixar tudo e por isso é importante a parte da saúde mental”, diz.
“Um dos pilares mais importantes é a educação em saúde, ou seja, o letramento dos pacientes, para saberem da importância da coparticipação no tratamento e que são corresponsáveis pelo estado geral da sua saúde”, conclui a médica.