Economy & Finance

Governo Trump pode obrigar indústria do Brasil a buscar novos parceiros

Avião da Embraer: Brasil tem competitividade no setor Imagem: Divulgação/ Embraer

Durante a campanha presidencial, o então candidato Donald Trump, agora eleito presidente dos Estados Unidos, anunciou medidas protecionistas para a economia americana. Na proposta de campanha, ele falou em tarifar em 60% os produtos importados da China, e de 10 a 20% os de outras regiões.

Para especialistas, os impactos das medidas para o Brasil ainda não são claros, mas a indústria brasileira poderia ser a principal afetada, por ter os Estados Unidos como grande mercado e uma das saídas é a busca por novos parceiros comerciais.

O que aconteceu

Política econômica dos Estados Unidos afeta todo o mercado global. “Considerando que os Estados Unidos é hoje o centro do capitalismo global, é o país que emite o dólar, então ele tem um potencial de definir a liquidez internacional, cada medida, cada decisão, acaba impactando todos os outros países, inclusive as relações dos países que não passam diretamente pelos Estados Unidos”, afirmou o especialista em economia política Euzébio de Sousa, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).

Proteção contra a China não começou agora. Sousa lembrou que, recentemente, os Estados Unidos taxaram em 100% os carros elétricos chineses e em 50% os painéis fotovoltaicos da China, o que também afeta o comércio internacional.

China lançou pacote de medidas para aquecer a economia. Por outro lado, em outubro deste ano a China já havia anunciado um pacote de medidas para reanimar a economia do país, tendo em vista que a meta de crescimento de 5% para este ano pode não ser alcançada. O governo chinês se comprometeu a aumentar os gastos, o que não mudou a projeção de crescimento divulgada pelo FMI para o país, em 4,8% ao ano para 2024 e 4,5% ao ano para 2025.

EUA são o quarto mercado das exportações brasileiras

Estados Unidos é um mercado importante para o Brasil. De acordo com dados de outubro deste ano, da Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento), os Estados Unidos foram o terceiro mercado de exportações brasileiro, com crescimento em 2024, na comparação com o ano passado. Nos primeiros lugares estão a Ásia, China e Europa. Os Estados Unidos são o principal mercado para o Brasil no caso de bens industriais. Já a China é o principal mercado importador de carne brasileira.

Abaixo, os valores exportados para os principais destinos nos três primeiros trimestres (janeiro a setembro) de 2024 e a comparação com o mesmo período de 2023, segundo a ApexBrasil:

ÁSIA

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US$ 113,4 BILHÕES

– 0,1%

CHINA

US$ 76,6 BILHÕES

– 1,2%

EUROPA

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US$ 44,7 BILHÕES

+3,6%

ESTADOS UNIDOS

US$ 29,4 BILHÕES

+10,3%

AMÉRICA DO SUL

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US$ 26,7 BILHÕES

– 19,8%

ASEAN (Norte do sudeste asiático – composto por Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Vietnã)

US$ 19,7 BILHÕES

+8,8%

ORIENTE MÉDIO

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US$ 13,5 BILHÕES

+23,5%

ÁFRICA

US$ 11,8 BILHÕES

+22,9%

Impacto na indústria e possibilidade de acordos bilaterais

Para especialistas, as medidas em relação ao Brasil ainda não são certas. Embora o presidente eleito americano tenha prometido taxação ao comércio internacional, ainda não há certeza de que isso será implantado ou que será da forma como foi prometido.

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“Donald Trump tem um certo histórico de ter uma retórica eleitoreira e que não é necessariamente transposta para vida, na prática”, comentou Euzébio de Sousa, professor da FESPSP:

Se implementada, medida pode impactar a indústria brasileira. Os principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos são bens industriais. Por isso, o professor de economia do Ibmec-RJ, José Ronaldo de Castro Júnior, avalia que o Brasil poderá ser afetado caso a taxação de importações seja implantada.

Porém, essa política não foi anunciada visando o Brasil. “A gente não é o maior alvo em relação a medidas protecionistas, os maiores alvos são China, Japão, Alemanha, mas principalmente a China. O ponto negativo é que o Brasil exporta para os Estados Unidos justamente alguns produtos que a gente tem dificuldade para exportar para outros locais, que são produtos industriais”.

Entre os produtos exportados, o especialista destaca veículos rodoviários, motores, peças de computador, dispositivos médicos e aviões: “Pensando em aviões, é um dos produtos em que o Brasil tem competitividade, então acho difícil a gente ter problemas nesse mercado, porque a própria Boeing, a principal empresa americana desse setor, está com muita dificuldade de entregar”.

Política econômica não deve mudar bruscamente, mesmo sob Trump: “Existe uma certa estabilidade na implementação da política econômica dos Estados Unidos, por isso não dá para dizer que eles vão dar um cavalo de pau, mudar completamente como os Estados Unidos implementam a sua relação comercial e a sua política econômica interna”, avaliou Euzebio de Sousa.

Medidas podem impactar a inflação nos Estados Unidos. O especialista explica que a taxação pode criar um processo inflacionário nos Estados Unidos, tanto causado pelo aumento no preço dos insumos para produção no país como pela queda na competição que havia com a entrada de importados. A corretora Monte Bravo estimou que a taxação pode levar a queda no crescimento do país em 1,4% ao ano e elevar a inflação em 0,9% ao ano.

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Medidas podem apresentar uma oportunidade para outros países. “De certa forma, ao fazer isso (taxação) ele também reposiciona o comércio bilateral de todos os outros países. Inclusive quando ele realizar alguma restrição de importação, isso tende a reduzir um pouco o comércio nos Estados Unidos com alguns países, o que abre uma janela de oportunidade no Brasil também, que é se reapresentar ou se reestabelecer neste comércio”, afirmou Sousa.

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