Ednéia Carvalho, esposa do ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida, disse nesta quinta (7) que não tem sido fácil “conviver com a injustiça” nos dois últimos meses. Seu marido foi demitido do cargo pelo presidente Lula em setembro, após denúncias de assédio moral e sexual, e é alvo de um inquérito autorizado pelo STF.
Quem é Ednéia?
Modista e empresária. Ednéia é proprietária do seu próprio ateliê de costura, o Afrikanéia, há nove anos. Ela tem formação técnica em modelagem e costura pelo Senac São Paulo e em modelagem industrial pelo Senai, além de ser bacharel em administração de empresas pela Faculdade Zumbi dos Palmares.
Relação de longa data com o ex-ministro. Néia, como os mais íntimos a chamam, tem 47 anos e está com Silvio Almeida há 18, sendo destes 15 anos de casamento, segundo o jornal Extra.
Casal tem apenas uma filha. Juntos, eles são pais de Anesu, de um ano e três meses. Seu nome teve origem no Zimbábue e significa “Deus está entre nós”, revelou o casal, no chá de bebê da filha.
Ednéia e o marido são ativos na comunidade afro-brasileira. Ambos têm um histórico de participação em eventos que promovem a cultura dos descendentes de africanos no Brasil.
Já viveu uma temporada em Nova York. O casal morou por alguns meses nos EUA em 2022, quando Silvio foi professor da Universidade Columbia.
A resposta de Ednéia às acusações contra Silvio Almeida
Modista saiu em defesa do marido desde o início do caso. Ednéia considerou as denúncias “absurdas” e “injustas”, além de ter sugerido que foram motivadas por “vingança”, em um texto publicado em seu Instagram em setembro. “O ministro quer gente séria, comprometida e dedicada no ministério. Quem saiu de lá por vagabundagem ou incompetência fica agora criando história para justificar seu fracasso”, escreveu.
Modista ainda insinuou haver um aspecto racial no caso. “Um homem negro, uma mulher negra, estão sendo acusados de serem arrogantes e autoritários. É sempre assim. A branquitude não aceita a negritude com poder”, destacou. “Nós, sua família e seus amigos, estamos com você e aguardando a justiça de Deus e de Xangô [orixá que representa a Justiça nas religiões de matriz africana]”.
Puerpério para ela foi sofrido. Mãe há menos de um ano e meio, ela se queixou da falta de sororidade após as acusações contra o marido. “A sensação é que o puerpério não acabou. Fala-se tanto em pautas feministas, mas esse mesmo feminismo não me acolheu, nunca vou esquecer das vezes que tive que amamentar a minha filha em meio a uma tristeza profunda.”
Ela se diz aliviada de estar de volta a São Paulo. Paulista, Ednéia desabafou sobre a experiência negativa no planalto central nesta quinta (7). “Brasília não me fez bem, sentirei falta das boas amizades que lá fizemos, mais nada”, lamentou.
O inquérito contra Almeida
Silvio Almeida foi demitido após acusações de assédio serem noticiadas pela imprensa. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, confirmou a colegas ter sido uma das vítimas.
STF autorizou abertura de inquérito contra o ex-ministro. O ministro André Mendonça autorizou no dia 17 de setembro a abertura de inquérito para investigar as acusações de assédio sexual. A PGR (Procuradoria-Geral da República) foi favorável à investigação, após pedido da Polícia Federal.
Anielle disse à PF que importunação sexual de Silvio Almeida começou em 2022 e escalou. No início de outubro, em depoimento à PF, a ministra afirmou que as “abordagens inadequadas”, como definiu, começaram no fim de 2022, quando os dois passaram a fazer parte do grupo de transição de governo nomeado por Lula antes da posse dele como presidente da República, segundo noticiou a coluna de Mônica Bergamo, na Folha.
Lula divulgou nota após demitir o então ministro. “O presidente considera insustentável a manutenção do ministro no cargo considerando a natureza das acusações de assédio sexual”, informava o comunicado.
Almeida nega as acusações. Em nota divulgada após a demissão, o ex-ministro disse que pediu para ser demitido pelo presidente Lula (PT) e que vai provar ser inocente das acusações de assédio sexual contra mulheres.
Ministério foi alvo de denúncias de assédio moral e pedidos de demissão em série. Reportagem do UOL já havia mostrado que esses episódios envolvendo a pasta ocorreram desde o início da gestão, em janeiro de 2023 — o ministro também nega essas acusações.