No ano passado, eu sofri um aborto espontâneo que me deixou completamente traumatizada. Eu estou novamente grávida e muito próxima de dar à luz. Contudo, passei toda a gestação preocupada que aquilo pudesse acontecer mais uma vez.
Devido a minha história, tenho tendência em pesquisar coisas que podem causar abortos e defeitos de nascença. Então, quando uma médica obstetra recentemente tentou me prescrever fluconazol, uma medicação que já foi repetidamente (e recentemente) ligada a abortos, eu entrei em pânico.
Há algumas semanas, desenvolvi uma coceira lá embaixo
Imaginei que fosse apenas alguma infeção por fungos (que são bem comuns na gravidez), então mencionei o assunto no consultório, onde fui atendida por uma médica que não vejo normalmente. Ela me examinou e disse que estava muito convencida de que estava com uma comum infecção por fungos. E foi aí que as coisas ficaram assustadoras.
“Eu vou prescrever fluconazol”, ela disse, tirando as luvas. Para sua informação: fluconazol é uma medicação oral usada para tratar infecção por fungos. Isso inclui a candidíase.
“Espere aí!”, eu gritei. “Esse medicamento não foi ligado a abortos espontâneos em estudos recentes?” Ela então me explicou que a pesquisa que eu estava pensando era antiga, e que só era perigoso se as mulheres ingerissem altas doses de fluconazol, então eu estaria segura. Minha cabeça ainda estava confusa, passando por tudo que havia lido previamente sobre a droga (eu leio muitos artigos, como uma redatora especializada em saúde).
Procurei esconder meu pânico e falei para ela que ficaria mais confortável se ela prescrevesse alguma substância tópica (que, você sabe, não foi conectada ao aborto). Ela me questionou a razão de eu preferir usar creme por dias ao invés de uma pílula, mas depois concordou.
Na realidade, há mais do que um “estudo antigo” ligando o fluconazol a abortos
Apenas para ser muito clara: eu não sou médica. Isso dito, estou muito atualizada com pesquisas sobre o uso do fluconazol durante a gravidez, e não é bom.
O estudo que a médica citou? É um artigo de 2015 publicado no Canadian Family Physician. Ele descobriu um aumento no risco de abortos e defeitos de nascença em bebês de mulheres que tomaram altas doses de fluconazol (400 a 1200 miligramas por dia) durante a gestação (a saber: a dosagem normal é de 150 miligramas pela U.S. National Library of Medicine).
Também houve mais pesquisas recentes. Em um estudo do JAMA (2016), cientistas analisaram dados de 1.4 milhões de mulheres grávidas e descobriu que aquelas que tomaram fluconazol em quaisquer doses tiveram um risco aumentado de aborto comparado com aquelas que não ingeriram a droga.
E, mais recente, um estudo de fevereiro de 2019, publicado no Canadian Medical Association Journal observou 441.949 grávidas e notou que o fluconazol em doses habituais ou altas elevam o risco de aborto espontâneo. E ainda: doses acima de 150 miligramas, tomadas no primeiro trimestre de gestação, pode aumentar os riscos do bebê nascer com problemas no coração.
Estou feliz por ter confiado na minha intuição
Quando se trata de tomar medicamentos durante a gestação, Christine Greves, obstetra no Winnie Palmer Hospital (EUA), diz que é importante confiar no seu médico. “Mas eu nunca vou argumentar contra a intuição de alguém”, explica. “Se você está sentindo que deve pesquisar e fazer perguntas ao farmacêutico, vá em frente.” Um farmacêutico é uma ótima fonte se você não está certa sobre um remédio e seus riscos, assim como a bula.
No geral, médicos são muito cuidadosos sobre prescrever medicamentos orais durante a gestação. Mas se você notar que seu médico não está sendo cuidadoso, ou não consegue confiar nele, procure outro.