Usina de Quixadá pode ser reativada após Petrobras desistir de vender subsidiária de biocombustível?
Planta de biodiesel no Sertão Central está desativada desde 2016
A Petrobras desistiu de vender a subsidiária Petrobras Biocombustível S.A. (PBio) e deve manter as três usinas de biodiesel em seu portfólio. Além das unidades em Montes Claros (MG) e Candeias (BA), a PBio tem uma usina de biodiesel em Quixadá, no Ceará, que está desativada desde 2016.
O encerramento do projeto de desinvestimento da PBio foi aprovado nesta quarta-feira (6) pela diretoria executiva da Petrobras. Segundo a estatal, a decisão está alinhada aos objetivos de diversificar a produção em negócios de baixo carbono.
A Petrobras avalia alternativas e modelos de negócio para a subsidiária, considerando parcerias e até associação com outros ativos da companhia.
Ao anunciar a desativação, em 2016, a Petrobras afirmou que não haveria solução para a usina em curto prazo e sem novos investimentos. A estatal havia decidido focar recursos em projetos com maior rentabilidade, como o petróleo.
Nos últimos anos, a petroleira já havia sinalizado que pode retirar a Usina de Biodiesel de Quixadá (UBQ) da ‘hibernação’, mas nenhum plano concreto foi divulgado.
A unidade cearense deve ser estratégica para a Petrobras no reforço da produção de biodiesel, avalia o diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos dos Santos.
O biodiesel é um combustível renovável produzido a partir de gordura animal e óleos residuais. No Brasil, há obrigação de mistura do biodiesel no diesel para reduzir a emissão de poluentes.
Quando operava, a planta de Quixadá representava mais da metade da capacidade instalada de produção de biodiesel da Petrobras, com produção autorizada em torno de 109 mil m³. Mahatma destaca a importância do empreendimento para a cadeia de biocombustíveis e bio-insumos do Nordeste.
“Além do biodiesel, ela tem a possibilidade de produzir glicerina em seus subprodutos, processa óleos e gorduras de origem animal, sebo e vegetal. É também detentora do selo combustível social, que lhe garante incentivos fiscais e permite que tenha integração de fornecimento e oferta de produtos para a região Nordeste e Norte”, explica.
A usina de biodiesel no Sertão Central tem capacidade até de se integrar com unidades de bio-refino da Petrobras, que visam a produção de uma nova geração de combustíveis sustentáveis, como o bio querosene de aviação.
USINA É ATIVO IMPORTANTE PARA O CEARÁ
Para decidir se reativa ou não a usina de Quixadá, a Petrobras deve avaliar as estratégias de operação e fornecimento de óleo para a planta.
Ricardo Pinheiro, membro da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), explica que a estatal deve trabalhar para tornar o ativo economicamente viável.
O biodiesel a ser produzido deve ter preço igual ou menor que o importado de outros estados, evitando perdas na economia local. “Precisa ter insumos equacionados para produzir biodiesel equivalente ou mais barato que o que chega, para que isso não venha a encarecer o diesel que será vendido no posto de combustíveis”, aponta.
A Petrobras também deve avaliar os custos de reativação da produção. Na opinião do engenheiro, a usina de Quixadá não tem estrutura completamente obsoleta, mas precisa ser atualizada e passar por processos de manutenção e inspeção.
“A usina está inertizada, mas precisa reativar determinados sistemas. Tem vários subsistemas que trabalham em conjunto, reatores, tancagem, compressores, que geram um custo. A Petrobras vai avaliar isso para reativar ou não”, afirma.
Ricardo Pinheiro ressalta que a usina da PBio no Estado é um ativo importante para o Brasil, que precisa de novas usinas de biodiesel, e principalmente para o Ceará.
O engenheiro lembra que, antes da desativação, praticamente todo o óleo diesel que chegava bruto ao Estado recebia a mistura na usina. A planta também processava óleo residual de estabelecimentos comerciais e coletado por catadores.
“Muitos condomínios acabam jogando na rede de esgoto, e esse óleo prejudica o processamento de esgoto da Cagece, acaba saindo mais caro. Essa coleta que era feita do óleo tinha função social importante, ambiental e econômica”, comenta.
O Diário do Nordeste questionou o Governo do Ceará sobre como a reativação da usina de Quixadá é avaliada, mas não recebeu retorno até a publicação desta matéria.
PBIO SE DESTACA NO PROCESSO TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) avalia como positiva a decisão da Petrobras de manter o controle da PBio, tendo em vista as necessidades do Brasil e da companhia de avançar da descarbonização.
Mahatma Ramos dos Santos explica que os investimentos na PBio indicam uma possibilidade de ter uma empresa estatal na dianteira do segmento de biocombustíveis.
“A PBio chegou a ser, até o ano passado, a sexta maior empresa em termos de capacidade instalada e produção de biocombustíveis do País. É um instrumento de política industrial e retomada da política industrial em direção à transição energética e descarbonização da matriz brasileira muito importante”, avalia.
Criada em 2008, a subsidiária conta com um histórico robusto da produção de biocombustíveis e certificações importantes no setor.
Mahatma destaca também a capacidade das usinas de dinamizarem a economia local, já que as plantas da Pbio têm ligação com a agricultura familiar das áreas onde estão inseridas.