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Análise: Refind Self: The Personality Test Game traz uma proposta ao pé da letra, mas nem por isso menos interessante

Em busca de um propósito

Quando falamos em testes de personalidade, logo pensamos no Modelo de Indicadores de Tipo Myers-Briggs (MBTI), um estudo que derivou dos oito tipos psicológicos de Carl G. Jung, e que é muito compartilhado internet afora. Desse modo, Refind Self: The Personality Test Game pega emprestada a proposta do MBTI para aplicá-la em um jogo extremamente intimista, tornando-o uma ótima proposta para refletir sobre as consequências de nossas ações — todas elas.

Em Refind Self, controlamos uma jovem androide que descobre que sua criadora está morta. Nossa jornada começa próximo ao jazigo dessa pessoa e, a partir daí, todas as nossas ações contarão para montar a personalidade da nossa protagonista. Nossa jornada, então, tem como propósito desvendar mais sobre a relação entre essas duas personagens.

Grosso modo, ao longo da campanha, cada escolha feita — de ler uma placa, colher uma flor a interagir com outros habitantes desse universo — serve para encher um medidor em forma de coração, que fica no canto superior esquerdo da tela. Ao chegar a 100%, a campanha é oficialmente encerrada e recebemos uma personalidade com base naquilo que fizemos ou deixamos de fazer.

Aqui, também estão incluídas ações como ajudar ou não uma artista que sofre de bloqueio criativo, rezar em um templo ou cuidar de um rebanho de ovelhas. Sim, há alguns minijogos opcionais que também influenciam na nossa personalidade.

De início, a jogabilidade parece ser um fator contraprodutivo em relação à proposta do jogo, pois é possível finalizar a campanha em pouquíssimos minutos. No entanto, também temos a opção de ter nosso progresso atrasado para que possamos explorar mais os motivos por trás da busca dela pela verdade.

Mas adivinha só: fazer essa escolha também acaba sendo uma ação que determinará nossa personalidade final. Ainda, Refind Self não nos entrega nada de bandeja, então já fica o spoiler: a história só será revelada por inteiro depois de completarmos a campanha três vezes, embora o fator de rejogabilidade seja enorme e o próprio jogo nos incite a continuar jogando.

As 23 personalidades na busca do “quem sou eu”

Como dito na introdução desta análise, este jogo tem em seu cerne os princípios básicos do MBTI e de Jung para nos ajudar a compreender melhor o peso das nossas ações. Ao todo, são 23 personalidades, divididas em cinco categorias distintas:

  • Passion: Adventurer, Researcher, Artisan, Traveler
  • Morals: Butler, Leader, Judge, Clergy, Pacifist
  • Methods: Solo Player, Bancho, Runner, Challenger, Planner
  • Judgment: Samurai, Philosopher, Martial Artist, Clown
  • Daring: Sage, Hero, Gambler, Merchant, Collector

Cada escolha que fazemos garante pontos em uma dessas categorias. Chega a ser um pouco difícil explicar como elas realmente funcionam na prática para além de suas descrições autoexplicativas, até porque não quero dar spoilers do que fazer ou não fazer durante a campanha. Aliás, se estamos em uma jornada para tentar entender quem realmente somos, quem sou eu para me meter nas decisões das outras pessoas ou julgá-las?

Para tentar simplificar um pouco, ao chegar ao final da aventura três vezes, recebemos cinco personalidades: uma principal, duas adicionais, uma oculta e aquela mais distante — estas duas últimas também relacionadas ao nosso modus operandi, por assim dizer. Na minha primeira campanha, consegui as personalidades Leader, Clergy e Researcher; na segunda, Runner; e por fim, Adventurer.

Se essas personalidades representam 100% de quem sou na vida real, não sei dizer com certeza, mas muitas das explicações conseguiram descrever um pouquinho de mim, não vou negar. E é por isso que reforço que Refind Self é um jogo pessoal, então nem mesmo minhas impressões são capazes de ditar o que você pode esperar desta aventura.

No entanto, acho que a parte mais legal é que as opções que fazemos são coletadas em uma base de dados que nos permite comparar nossas ações com as de outras pessoas que também jogaram Refind Self. Todas essas estatísticas podem ser comparadas assim que finalizamos a campanha pela segunda vez, e é bastante interessante descobrir que muita gente também preferiu fechar a lata de lixo em vez de procurar coisas lá dentro, por exemplo.

A simplicidade audiovisual

Além de uma narrativa emocionante, toda a arte do jogo foi pensada para deixar a jornada da jovem androide mais introspectiva, em especial a trilha sonora. Os sprites em pixel art também são muito bem-feitos, e tenho para mim que a escolha de uma paleta de cores voltada para tons de amarelo ajudam a reforçar essa natureza de clareza e acolhimento que Refind Self proporciona.

No entanto, a crítica maior que tenho a fazer é a falta de localização dos textos para o português brasileiro, ainda mais quando estamos falando de um produto que tem como escopo nos ajudar a compreender quem somos. Temos diálogos bastante significativos entre ações e reações que podem ficar perdidos ou ser mal-interpretados caso não exista certa fluência em um dos idiomas disponíveis.

Mais um jogo para quem gosta de pensar no propósito da vida

Simples na superfície, complexo em sua execução, Refind Self: The Personality Test Game é uma experiência que serve para nos explicar como as nossas decisões perante as diversas situações que encontramos pelo caminho nos moldam como pessoas. Não é um teste de personalidade 100% infalível, claro, mas com certeza nos esclarece muitas dúvidas que temos sobre nós.

Prós

  • Apresentação audiovisual charmosa, acolhedora e introspectiva, com uma história emocionante por trás;
  • Todas as ações feitas ao longo da campanha são usadas como medidores para nossa personalidade;
  • A campanha pode ser extremamente longa ou curta, dependendo de como escolhemos abordá-la;
  • Existe a possibilidade de comparar nossas escolhas com as das demais pessoas que também jogaram;
  • Presença de minijogos opcionais;
  • Alto fator de rejogabilidade.

Contras

  • Sem localização para português brasileiro;
  • Apesar de trazer a proposta de ser um teste de personalidade, o resultado pode não refletir a realidade com precisão.

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