Ação de hackers chineses nos EUA é muito mais perigosa que o imaginado, diz jornal
Dados ao alcance dos invasores poderiam comprometer investigações criminais federais e operações de inteligência
No final de outubro, autoridades norte-americanas revelaram ao jornal The New York Times que hackers supostamente a serviço da China invadiram cerca de cem aparelhos de telefonia móvel, inclusive de aliados do presidente dos EUA, Joe Biden, e dos dois principais candidatos à eleição presidencial do país, o vencedor Donald Trump e a derrotada Kamala Harris. Agora, o The Washington Post revela que a campanha é bem mais ampla do que se imaginava e compromete a privacidade de todos os norte-americanos, ameaçando inclusive investigações federais e operações de inteligência.
A campanha permitiu que os hackers, acusados de servir ao Ministério da Segurança de Estado de Beijing, se infiltrassem no sistema de escutas telefônicas e vigilância das agências de segurança dos EUA. Eles teriam acessado mensagens SMS não criptografadas e registros de chamadas telefônicas, com indícios de que arquivos de áudio também foram atingidos.
“Milhões de usuários de telefones celulares nas redes de pelo menos três grandes operadoras dos EUA podem, portanto, estar continuamente vulneráveis à vigilância do governo chinês”, diz o artigo, assinado pelo jornalista Josh Rogin.
Fontes ouvidas pelo autor, que pediram anonimato porque a investigação ainda está em andamento, disseram que o caso é muito mais perigoso que o reportado inicialmente. O governo acredita que os hackers seguem com acesso aos sistemas, embora o ataque tenha sido exposto.
“É muito mais sério e muito pior do que vocês todos presumem neste momento”, disse o presidente do Comitê de Inteligência do Senado, Mark R. Warner. “É uma das violações mais sérias em meu tempo no Comitê de Inteligência.”
Considerando o alcance das empresas atingidas e a profundidade da ação dos hackers, entre os milhões de cidadãos norte-americanos com a privacidade comprometida estão altos funcionários do governo dos EUA e os principais líderes empresariais do país.
Um dos temores das autoridades é o de que os invasores tenham acessado dados de grampos legais. Se expostas, tais informações poderiam comprometer investigações criminais federais e operações de inteligência em todo o mundo.
“Agora mesmo, a China tem a capacidade de ouvir qualquer chamada telefônica nos Estados Unidos, seja você o presidente ou um cidadão comum, não faz diferença”, disse uma das vítimas dos hackers, que diz ter recebido tal informação do FBI, a polícia federal dos EUA. “Isso compromete toda a infraestrutura de telecomunicações deste país.”
Ataques chineses
Em setembro, o FBI havia denunciado uma ação semelhante de outro grupo teoricamente a serviço de Beijing. No caso, os hackers chineses teriam comprometido mais de 250 mil aparelhos digitais em todo o mundo.
O grupo em questão é conhecido como Flax Typhoon, que teria estabelecido uma botnet, rede composta por diversos dispositivos sequestrados, para camuflar suas operações maliciosas. Teriam sido hackeados aparelhos como câmeras e dispositivos de armazenamento digital, que acabaram comprometidos. O objetivo era “coletar inteligência e realizar reconhecimento para agências de segurança do governo chinês”, segundo o FBI.