Para evitar a escassez de metais raros como o cobalto e o lítio, decisivos na transição energética, a reciclagem será essencial, advertem os especialistas.
Do Peru até a França, passando pelos EUA, todos os países reivindicam a soberania sobre esses metais estratégicos, o que é motivo de preocupação global, em particular porque a China tem estendido sigilosamente a sua hegemonia durante anos, tanto na produção como no refino.
“Entre 35% e 70% da capacidade de refino está nas mãos da China”, relembra o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, em um recente informe sobre competitividade europeia.
A Agência Internacional de Energia (AIE) advertiu em maio sobre o risco de tensões no fornecimento e, além disso, uma possível escassez de cobre ou lítio, indispensáveis para a implantação de tecnologias de baixo carbono, como carros elétricos ou energia eólica.
O preço do lítio, do níquel e do carbono baixaram em 2023, no entanto, este declínio poderia reduzir os investimentos em mineração necessários para manter o fornecimento.
Durante a conferência anual da ONU sobre o clima (COP29), que começará na segunda-feira (11) no Azerbaijão, o Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) planejou nada menos que seis comunicações diferentes sobre a unidade de mineração.
No entanto, “a indústria de mineração enfrenta, hoje, um grande problema de financiamento”, destaca à AFP Moez Ajmi, especialista em energia da Europa na consultora EY.
As necessidades são gigantescas. Em uma mina tradicional da República Democrática do Congo são produzidas, em média, apenas 3 gramas de cobre por tonelada de terra escavada e 0,5 grama por tonelada no Chile, diz Christian Mion, diretor de mineração da EY.
– Um pico “em meados da década de 2030”-
Todos os Estados incentivam a mineração e os Estados Unidos, com sua recente lei “anti-inflação” (IRA), buscam garantir o fornecimento de metais essenciais.
A Europa também lançou um “Critical Minerals Act”, que entrará em vigor este ano, e a Arábia Saudita injetou US$ 500 milhões (valor em 2,8 bilhões na cotação atual) para estabelecer seu cadastro de mineração.
O gigante petroleiro ExxonMobil anunciou há um ano seus planos para se converter no principal produtor de lítio dos Estados Unidos, utilizando técnicas que extração de petróleo e gás para explorar um veio subterrâneo de salmoura de lítio no Arkansas.
No entanto, devido à quantidade considerável de investimentos em equipamentos, salários e transporte, e ao tempo de várias décadas para que os projetos surjam, outras soluções estão sendo consideradas.
“Para mim, a solução mais realista é a reciclagem”, destaca Ajmi.
Segundo Draghi, a circulação dos metais poderia satisfazer por si só 50% da demanda mundial a longo prazo.
De acordo com Ajmi, uma indústria de reciclagem poderia representar entre 10% e 15% do PIB dos países em desenvolvimento em quinze anos, “desde que os bancos e os Estados apoiem os projetos”.
Em um artigo recente chamado “Baterias, o ciclo mineral”, o grupo de reflexão americano RMI estima, inclusive, que o pico de mineração de minerais estratégicos para baterias deve ocorrer em meados da década de 2030.
Com a melhora das técnicas de reciclagem e da extensão da vida útil das baterias, a demanda por minerais virgens para baterias poderá ser nula até 2040, observa a RMI.
A reciclagem poderia então atender às necessidades do mercado de baterias elétricas e o mundo não precisaria mais escavar.