Parceiro de Luísa Sonza em “Rough”, o cantor venezuelano La Cruz, 28, visitou o Brasil pela primeira vez para cantar ao lado da cantora em um show no Rio de Janeiro. Os dois se apresentaram para cerca de 8.000 pessoas no Qualistage, zona oeste da cidade.
Visita estendida…
La Cruz aproveitou a estadia para fazer encontros com fãs brasileiros, no Rio e em São Paulo, além de conhecer pessoalmente Thiago Pantaleão, até então, amigo virtual do venezuelano. Também visitou o Pão de Açúcar, um dos cartões postais da capital fluminense, e deu entrevistas. “Estou encantadíssimo porque aqui no Brasil estão acontecendo coisas lindas”.
Ele chegou ao Brasil semanas após lançar um novo EP, “EL NENE”. O trabalho conta com seis faixas, incluindo “Frio”, música que flerta com o funk brasileiro, gênero que ele adora. “Nunca tinha explorado tanto o funk, é um pop funk, adorei o resultado também… Percebi que há muitos gêneros dentro do funk que vem do Brasil. Também gosto da bossa nova, ou seja, vocês têm uma cultura musical muito rica”.
Adoro o Pedro Sampaio. Amo ele de paixão, o conheci em Madrid, é uma figura incrível. Thiago Pantaleão, Anitta e a Melody também. La Cruz
“EL NENE” foi criado para que as pessoas dancem, contou La Cruz a TOCA. Além disso, acredita que o projeto permite que os fãs conheçam mais sobre ele.
Fui bastante coerente com cada música. Mesmo que seja um reggaeton para curtir na balada, tentei deixar algo da minha história em cada faixa. Por exemplo, ‘Besties’ tem muito da terra onde nasci, soa bastante tropical, mas sem soar como um eletromambo exagerado, já que no meu país se ouve muito eletromambo.
Apesar de pisar no Brasil pela primeira vez, ele diz ter uma conexão com o país há um ano e meio. Após notar boa recepção para “Quitate La Ropa”, escreveu um trecho que cita o país em “Easy Boy”: “Ese culito es de Brasil y con ninguno compite”. A faixa tem mais de um milhão de reproduções no Spotify —onde o top 5 do artista é dominado por quatro cidades brasileiras. “Vivo traduzindo as coisas que me mandam, preciso aprender português”.
Atualmente, a faixa mais reproduzida de La Cruz é “Rough”, parceria com Sonza, a quem ele rasga elogios. “Já nos seguíamos no Instagram, e ela disse que queria que eu escutasse [a música]. Quando ouvi, pensei: ‘Isso é muito diferente do que eu faço’, mas gostei da ideia de explorar coisas novas. Lembro que fui ao estúdio e resolvemos isso em 20 minutos. Escrevemos a música super rápido… Eu disse: ‘Neste momento queremos namorados, queremos dinheiro, vamos colocar isso [na letra]’.”
Desde então, eu disse: ‘Preciso cantar com você em algum momento, porque adoro a energia da música e a energia dos seus shows’. Ela disse ‘bora’. Assim que tudo aconteceu. La Cruz
Representatividade LGBT
Ícone LGBT da nova geração do reggaeton, La Cruz se mudou para Madrid aos 19 para correr atrás do sonho de cantar. Trabalhou em outras atividades, incluindo ofício de pedreiro, até participar do reality Operación Triunfo, que faz sucesso na Espanha, e começar a ter contato com produtores musicais.
Há poucos meses, deixou a capital espanhola e se mudou para Miami, onde investe na música atualmente. “Sou um sonhador nato”.
La Cruz não vê como responsabilidade cantar sobre amor e sexo gay, mas enxerga naturalidade por ser a sua vivência. Diz que suas músicas têm situações as quais já viveu “com um pouquinho de fantasia e malícia”, além de situações que já ouviu e se identifica.
Para mim, é um privilégio sentir que muitas pessoas se identificam e dizem: ‘Estou conhecendo a história de um garoto que canta para outro garoto’.
No reggaeton, isso é raro, já que a maioria das músicas fala sobre sexo heterossexual a partir da visão do homem. “Vivemos em uma geração que está rompendo com isso [machismo e homofobia]. Continuar, a essa altura da vida, escondendo diferentes formas de expressar o amor é absurdo”.
Cada pessoa deve fazer o que deseja de coração. A música não é feita só para se tornar o número um e vender mais ingressos; a música é feita para te fazer levantar e dizer: ‘Hoje fiz o que amo e posso deitar de novo em paz’. Trabalho a partir daí. Claro que quero ser o número um, mas se não for, também não vou parar de fazer o que amo só porque os outros dizem que eu não vou conseguir.
Cantando sobre amor gay e de maneira explícita, La Cruz não se rende aos tabus, nem ao que o mercado musical pode querer impor. “Há três anos, uma gravadora aqui na América Latina me procurou para um projeto, mas a condição era que eu tivesse de cantar em gênero neutro e cuidar da parte visual. Eu pensei: ‘Mais que um contrato, isso é um silêncio’. Eu não posso silenciar o que realmente quero fazer. Não aceitei e não me vendi”.