Analistas avaliam que volta do republicano deve afetar política migratória do país
Restrições migratórias e a eliminação de proteções para algumas nacionalidades devem marcar o retorno de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, de acordo com analistas, que, no entanto, consideram difícil que o republicano realize deportações em massa como prometeu durante a campanha.
Trump, que venceu a vice-presidente democrata Kamala Harris nas eleições de terça-feira, fez da retórica anti-imigração o eixo central de sua campanha, marcada por tensões.
Seus apoiadores, muitos deles latinos, colocaram a segurança fronteiriça como um dos fatores decisivos no seu voto e abraçaram sua promessa de deportações em massa.
Aaron Reichlin-Melnick, assessor do Conselho Americano de Imigração, uma organização sem fins lucrativos, antecipa que a primeira medida de Trump para as fronteiras será a adoção de políticas para minimizar a migração legal.
“Provavelmente, ele invocará a seção 212 (f) da Lei de Imigração e Nacionalidade, que lhe permite impor proibições a pessoas que entram nos Estados Unidos ou buscam vistos”, afirmou.
“Essa foi a (chamada) proibição muçulmana, ou proibição de viagem, de seu primeiro mandato, e ele prometeu trazê-la de volta e potencialmente expandi-la em seu segundo mandato”, disse.
Reichlin-Melnick também acredita que Trump terminará com as alternativas de migração que o governo democrata de Joe Biden instaurou para cidadãos de países como Cuba e Venezuela por motivos humanitários, que permitiram a entrada de dezenas de milhares de pessoas nos Estados Unidos.
Consequências econômicas
Reichlin-Melnick vê como provável o aumento da presença militar na fronteira com o México, bem como um maior destacamento de pessoal militar, que até agora se limitava ao apoio logístico.
É aí que o efeito de sua vitória poderá ser sentido primeiro.
“O que vimos nas eleições passadas é que o número de migrantes que chegam à fronteira tende a aumentar”, explicou Adriana Jasso, da ONG Comitê de Serviço dos Amigos Americanos.
“E a razão (…) é que, pelo menos agora, eles têm uma ideia ou conhecimento do que existe, mas depois que o próximo presidente assumir o poder, não haverá a mesma certeza. Especialmente em um caso de uma mudança tão drástica como essa”, comentou.
Os especialistas observam com ceticismo a capacidade de Trump de materializar operações de deportação em massa.
Reichlin-Melnick sustenta que o número real de imigrantes sem documentação varia entre 13 e 15 milhões, e uma operação dessa magnitude exigiria centenas de milhões de dólares, dezenas de milhares de agentes e décadas de ação contínua, o que ele considera “irrealista”.
A consequência imediata de uma ação dessa envergadura, estimou, seria uma queda do PIB entre 4,2% e 6,8%.
“E o que isso significa? Durante a Grande Recessão, o PIB caiu 4,3%, portanto, deportar toda a população sem documentação derrubaria a economia dos Estados Unidos”, explicou.
Mas o analista também vê outro risco para a economia. Mais de um milhão e meio de pessoas, incluindo cidadãos de Venezuela, El Salvador e Haiti, respaldados por um status de proteção temporária, e os beneficiários do programa Daca, que passaram a maior parte de suas vidas nos Estados Unidos sem conseguir a cidadania, correm o risco de perder sua proteção legal por decisão do Executivo.
“Como vimos no primeiro mandato de Trump, seu governo está muito disposto a revogar o status legal de centenas de milhares de pessoas”, disse Reichlin-Melnick.
“Se essas pessoas saírem da força de trabalho por medo ou porque forem deportadas, haverá uma escassez significativa de mão de obra, o que aumentará a inflação e o custo dos produtos, provocando uma contração na economia”, afirmou.
“De qualquer forma, veríamos um impacto econômico significativo”, comentou. “Os imigrantes sem documentação são uma parte crucial da economia americana”.